Por: Daniel Lima
Você
lembra daquele concurso em que quase passou? Ou daquele emprego que você quase
conseguiu? Ou do negócio que você quase fechou?
O
fato é que, ao longo da vida, algumas oportunidades passam por nós e por alguma
razão simplesmente não acontecem. Este momento de quarentena tem visto
empreendimentos que estão morrendo, mas outros que surgem e, aproveitando a
oportunidade, crescem e se desenvolvem. Como entender oportunidades que “quase”
acontecem? Será que simplesmente não eram da vontade de Deus? Ou será que eu
fui lento demais ou temeroso demais para aproveitá-las? Até que ponto é sábio
ser ousado diante de oportunidades?
A
Bíblia descreve oportunidades perdidas e outras que Deus fecha a porta. Saul
desobedeceu a Deus oferecendo um sacrifício que não lhe era permitido e perdeu
a oportunidade de estabelecer seu reinado (1Samuel
13.13-14). Davi aproveitou uma oportunidade de lutar com um gigante e
promoveu a libertação de Israel (1Samuel
17). O mesmo Davi por duas vezes deixou passar a oportunidade de matar Saul
(1Samuel 24; 26), por não querer
levantar a mão contra o ungido de Deus, ainda que ele mesmo tivesse sido
ungido. No entanto, quando ofendido por Nabal, por pouco não toma uma
oportunidade de matá-lo e assim derramar sangue inocente (1Samuel 25).
O
que tem estado em minha mente nestes últimos dias é a comparação de como dois
homens reagiram diante de oportunidades. Os dois eram israelitas, ambos mestres
da lei e fariseus. Ambos tiveram um encontro com Jesus. De um deles temos
apenas indícios de uma tímida transformação, do outro temos o relato de uma
vida transformada. O primeiro é Nicodemos e o segundo é Paulo.
Nicodemos
aparece três vezes no evangelho de João. Na primeira vez (João 3), ele reconhece que o ensino de Jesus vem de Deus e tem uma
conversa muito sincera com o Messias. Na segunda vez (João 7.50), ele aparece em uma discussão no sinédrio, mas seu
posicionamento é apenas marginal. Na terceira vez (João 19.39), ele aparece auxiliando no sepultamento de Jesus.
Embora não seja uma confissão de fé pública, somente aqui ele se posiciona
favoravelmente por Jesus. Paulo, por outro lado, aparece no início do livro de
Atos e se torna um personagem central do livro e, na verdade, na história da
igreja.
Comparar
personagens é sempre um tanto injusto. Nicodemos encontrou-se com Jesus durante
seu ministério terreno, quando nem seus discípulos compreendiam com clareza sua
missão. Paulo encontrou Jesus em meio à explosão de evangelismo decorrente do
derramamento do Espírito Santo. Nicodemos parece ter sido um homem com uma
personalidade mais tímida, Paulo era zeloso e ousado. Nicodemos era mais velho
que Paulo ao se encontrar com Jesus – teria mais a perder caso passasse a ser
seguidor de Cristo. Paulo era bastante independente e assim teria menos a
perder ao seguir Jesus. No entanto, eu fico me perguntando o que teria ocorrido
caso Nicodemos tivesse decidido seguir a Jesus desde o princípio. Qual teria
sido seu impacto? Como teria sido sua caminhada?
Algumas
oportunidades são perdidas, outras assumidas. Algumas oportunidades Deus nos
impede de aproveitar pois seriam contra sua vontade, outras ele espera que nós
mesmos evitemos. Após anos servindo ao Senhor, entendo que ao longo da vida
perdi algumas oportunidades que não deveria ter perdido e assumi outras que
deveria ter evitado. Por sua graça aproveitei também muitas que glorificaram
seu nome e evitei outras que trariam vergonha a ele e a mim. Como avaliar se
oportunidades que se apresentam devem ou não ser abraçadas? Antes de alistar
algumas sugestões, deixe-me compartilhar as palavras de um homem muito usado
por Deus em missões, o autor e missionário J. Oswald Sanders:
Muito
mais fracassos são resultado do excesso de precaução do que da ousadia de
experimentar coisas novas. As fronteiras do reino de Deus nunca foram avançadas
por homens e mulheres precavidos. [1]
Ousadia
e cautela, aproveitar oportunidades ou deixá-las passar, arriscar-se ou manter
o que conquistou? Eu gostaria de propor que para Deus o que importa é nosso
coração, nossa atitude ao tomarmos uma decisão. Aquele que é ousado por que
deseja ser famoso ou tornar seu nome grande será repreendido pelo Senhor;
aquele que é cauteloso por falta de fé será igualmente repreendido. Deixe-me
alistar algumas considerações que devem ser independentes de temperamento ou
situação de vida:
1. 1. Qualquer oportunidade, por melhor que seja, que
envolva distorcer as instruções de Deus deve ser abandonada (1Samuel 15.22).
2. 2. Qualquer oportunidade que nos leve a um ganho pessoal
deve ser cuidadosamente avaliada antes de ser aproveitada. É fundamental que
nosso coração enganoso seja avaliado, para não usarmos circunstâncias ou o nome
de Deus para nos promovermos (2Coríntios
4.2).
3. 3. Qualquer oportunidade, ainda que além de nossas
forças, que nos leve a um serviço mais extenso, mais profundo e mais
significativo a Deus deve ser considerada (Colossenses
1.29).
4. 4. Qualquer oportunidade que traga maior glória a Deus
deve estar acima de meu bem-estar pessoal (Mateus
26.39).
Que
Deus seja nossa maior motivação. Quer aproveitemos ou não uma oportunidade, que
não seja por ousadia baseada na necessidade de autopromoção. Se deixarmos
passar uma oportunidade, que não seja por medo de não sermos suficientes, ou
pior, por medo de que Deus não seja suficiente. Que nossa submissão e nossa
confiança sejam tais que possamos seguir adiante ousando no poder de Deus, mas
somente no seu poder.
Nota
[1]J.
Oswald Sanders, Liderança Espiritual (São Paulo: Mundo Cristão, 1985).
Fonte: Chamada.com.br
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