Por: Orlando Martins
Nesta
semana comemoramos os 500 anos da Reforma Protestante, que foi um movimento de
retorno à Palavra de Deus,...
...já
que no século XVI, a fé cristã se viu envolvida em uma profunda crise(1), onde a
leitura da Bíblia ficava restrita apenas aos clérigos, sendo paulatinamente
substituída pelos amuletos, pelo misticismo, pela tradição e pelas crendices
populares. Portanto com o passar do tempo, as pessoas foram se distanciando das
Escrituras e neste período a Bíblia somente era lida em latim pelos padres se
tornando para a maioria das pessoas um documento misterioso.
Portanto,
o contexto histórico da Idade Média foi marcado pela imposição da teologia do
medo, onde o clero católico envaidecido de suas conquistas terrenas demonizava
tudo que fosse contrário e ensinava ensinos distorcidos como: o purgatório, a
venda de indulgências, a prática da diabolização; o uso dos amuletos e a
infalibilidade papal, o que gerou o medo coletivo na população. Portanto, o
comércio de indulgência na Idade Média era muito forte e assim com o passar do
tempo houve o crescimento considerável de abusos, tais como a livre venda de
indulgências por profissionais “perdoadores“ e a pregação destes, em alguns
casos era exagerada chegando a afirmar: “Assim que uma moeda tilinta no cofre,
uma alma sai do purgatório”. Deste modo, cada vez mais crescia o número de
religiosos que ensinavam diversos tipos de superstições, como rezas, amuletos e
histórias com o fundo manipulativo interesseiro e quem se opunha a isso era
queimado na fogueira.
Assim
com o passar do tempo começou a haver um desgaste destas práticas e assim tem
início o período conhecido como Pré-Reforma, que foi legitimada pela crise
moral do papado, pela revolta dos camponeses contra os senhores feudais, pela
exploração da Europa pela Igreja Católica e pelo movimento da Renascença, onde as
pessoas começaram a ter mais acesso a cultura e ao conhecimento, sendo estas as
bases da futura Reforma Protestante. Sendo assim, foram surgindo alguns
pré-reformadores como Pedro Valdo; John Wycliffe e em especial John Huss que
morreu queimado pelo fogo da Inquisição, mas, que foi grandemente usado por
Deus com a seguinte mensagem: “Hoje vocês queimam um ganso insignificante, mas
daqui a cem anos ouvirão o canto de um cisne que não será queimado, e nenhuma
artimanha ou armadilha o prenderá. ”
No
início do século XVI, como efeito da teologia medieval, o monge agostiniano
Martinho Lutero entendia que somente através do martírio e do sofrimento é que
o homem alcançaria a salvação. Com isso, ele era terrivelmente afligido por sua
consciência e se considerava o pior dos pecadores, a ponto de penitenciar-se
diariamente, pois Lutero cria na salvação pelas obras e não compreendia de modo
pleno a graça de Deus. Contudo, durante seus estudos teológicos exaustivos,
passou a compreender a justiça de Deus ao estudar Habacuque 2:4 e Romanos 1:17
“O Justo viverá da fé”. Dessa feita, Lutero passou a compreender que a salvação
do homem se dá através da justificação pela graça mediante a fé, e que a
salvação é um ato de Deus e não do homem.
Como de acordo com o historiador e pastor luterano
Joachim H.Fischer:
“A
origem da Reforma Protestante foi a redescoberta da justificação pela graça
mediante a fé. Serviu como critério para avaliar a igreja, a teologia e a
sociedade da época. O parâmetro da renovação da Igreja era o cristianismo das
primeiras comunidades cristãs. Esse cristianismo havia sido distorcido e
sufocado, ao longo dos séculos, por inúmeras leis, prescrições e práticas
humanas, não essenciais para a fé e muitas vezes abusadas para manter o
controle da instituição Igreja sobre os fiéis ou para assegurar-lhe suas bases
financeiras e seu poder”[2].
Portanto,
no ano de 1512, Lutero se forma doutor em Teologia e em 1517, lançou uma
abrangente e contundente crítica às indulgências, o que acaba desencadeando o
processo que se tornará a Reforma Protestante. Não com o objetivo de formar uma
nova igreja, mas, com o claro objetivo de reformar a fé católica. Lutero passou a formular suas doutrinas,
combateu os erros doutrinários do período e assim promoveu a Reforma Protestante
a partir de 1517, fixando as 95 Teses da Fé na igreja da cidade de Wittenberg,
como de acordo com Fischer: ‘’ Lutero confrontava-se com as consequências
desastrosas do negócio das indulgências, um dos pilares da sustentação
financeira da instituição Igreja. Com suas famosas 95 teses, de 31 de outubro
de 1517, sugeriu um debate para esclarecer o valor das indulgências. Afirmou:
“O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça
de Deus” (tese 62)[3].
Para
Lutero, a Bíblia é a autoridade máxima que está acima das tradições, dos papas,
dos concílios e das emoções. Ela é a norma determinadora para todas as decisões
de fé e da vida. Portanto o deslocamento do peso do sacramento e do aspecto
sacramental para a Escritura e a pregação escriturística significou mais do que
uma mera mudança de ênfase. De acordo com o pastor luterano Fischer:
“Um
historiador católico comparou a intimidade de Lutero com a Bíblia à intimidade
entre marido e esposa, um relacionamento semelhante a um casamento”.[4]
Infelizmente,
nos dias atuais, muito pouco se fala ou se avalia acerca da Reforma
Protestante, até porque, muitos nem sabem da importância deste acontecimento e
de seu legado espiritual na vida de cada um de nós. Diante desta proposta,
pudemos refletir a importância das 95 teses da fé que foram fixadas na catedral
de Wittemberg, quando Lutero, desafiando o clero e a igreja institucionalizada,
fixou as 95 teses da fé cristã. Ele não apenas resgatou a igreja do caos
teológico, mas devolveu ao povo o direito de ler a Palavra de Deus e nela
buscar direção espiritual. Contudo nos dias atuais, temos observado claramente,
que muitos se esquecem dos princípios basilares da Reforma: “Sola Fide, Sola
Scriptura, Sola Gratia, Solos Cristhus e
Soli Deo Gloria”. Portanto, a Reforma mudou o panorama e a história de todo o
cristianismo, gerando mudanças pontuais não apenas na religião, mas, na vida
política, econômica, cultural e moral, não apenas da Alemanha, mas, de toda uma
geração!
Enfim
movidos pela espiritualidade da Reforma eu e você devemos em tudo buscar sermos
parecidos com Jesus através da prática do Fruto do Espírito que é o triunfo da
graça pois a base da Espiritualidade é o amor, já que diferentemente dos tempos da Reforma, cada
crente, possui uma Bíblia na mão e o Espírito Santo no coração e ELE nos guia a
toda a verdade!
[1] DREHER, Martin. Bíblia:
suas leituras e interpretações na história do cristianismo. São Leopoldo: Sinodal & CEB, 2006.
[2] FISCHER, Joachim.
Reforma: renovação da Igreja pelo Evangelho. São Leopoldo: Sinodal, 2006. p.
27.
[3] LUTERO, Martinho. Debate
para o Esclarecimento do Valor das Indulgências. Obras Selecionadas. São
Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia. p. 21-29, à p. 27, apud FISCHER,
2006, p. 28.
[4] LORTZ, Joseph. Die
Reformation in Deutschland [A Reforma na Alemanha]. 5 ed. Freiburg: Herder,
1962. V.1,p.160 apud FISCHER, 2006, p. 21.
Fonte: Gospel Prime
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