Por: Daniel Lima
No clássico livro de ficção de
George Orwell, A Revolução dos Bichos, o autor descreve eventos em uma fazenda
em que os animais se rebelam contra o fazendeiro e o expulsam.
A partir daí, os próprios bichos
implantam uma democracia em que todos seriam iguais. Infelizmente os porcos,
ajudados pelos cães, começam a explorar os demais animais, enganando-os para
ganhar mais e mais poder. Uma das tramas descreve o cavalo Sansão, que trabalha
muito duro pela comunidade, crendo cegamente na promessa de que logo poderá se
aposentar e viver confortavelmente no pasto. No entanto, quando ele adoece de
tanto trabalhar, os porcos prometem levá-lo a um hospital veterinário. Quando o
“hospital” vem buscá-lo, um dos animais lê na lateral do caminhão: “Matadouro
de Cavalos, Fabricante de Cola... Peles e Farinha de Ossos. Fornece para
Canis”.[1] Os porcos explicam que o hospital comprou o caminhão do matadouro e
esqueceu de trocar a placa. E, mesmo que após alguns dias os porcos anunciem
que Sansão morreu no “hospital”, os demais animais respiram aliviados, pois,
segundo o autor, “eles nunca perderam a esperança”.
A obra é uma clara crítica a
qualquer sistema totalitário, em especial ao comunismo. No entanto, apesar do
estilo um tanto deprimente, o autor aponta com muita propriedade como somos
suscetíveis a falsas esperanças. Na obra, o cavalo Sansão trabalhou até adoecer
pela esperança de uma aposentadoria confortável; ao nosso redor, homens e
mulheres correm desesperadamente atrás daquilo que, esperam eles, vai lhes
trazer felicidade. Um dos amigos de Jó afirmou:
Esse é o destino de todo o que se
esquece de Deus; assim perece a esperança dos ímpios. Aquilo em que ele confia
é frágil, aquilo em que se apoia é uma teia de aranha. (Jó 8.13-14)
O ser humano precisa de
esperança. Provérbios 13.12 afirma: “A esperança que se retarda deixa o coração
doente, mas o anseio satisfeito é árvore de vida”. Sabendo dessa necessidade
humana por esperança, o mercado das falsas esperanças prospera o tempo todo.
Basta olhar um comercial ou as promessas de qualquer ideologia. Muitos, alguns
até mesmo depois de se tornarem discípulos de Cristo, cedem às tentações das
falsas esperanças. Não é sem razão que Paulo nos alerta em Efésios 5.6:
“Ninguém os engane com palavras tolas...”.
O que marca uma falsa esperança?
Deixe-me alistar pelo menos alguns princípios:
Qualquer ideia que ignore a Deus.
É comum vermos cristãos se aliando a ideologias e partidos que têm como base
uma oposição a Cristo. Qualquer esperança que exclua Deus é – sem exceção – uma
falsa esperança.
Qualquer ideia que exalte a
natureza humana. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Somos o ápice da
criação, mas ao mesmo tempo estamos condenados sob a ira de Deus. Por isso
nossa esperança deve incluir a salvação em Cristo.
Qualquer ideia que conceda a
alguém ou a um grupo o direito de decisões absolutas. A história está repleta
de indivíduos que foram elevados à condição de salvadores ou de líderes
absolutos. O resultado final sempre foi tragédia e abuso.
O que então marca uma esperança
verdadeira? Podemos começar com a passagem que o apóstolo Pedro escreve em
1Pedro 3.15-16:
Antes, santifiquem Cristo como
Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer
pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com
mansidão e respeito, conservando boa consciência, de forma que os que falam
maldosamente contra o bom procedimento de vocês, porque estão em Cristo, fiquem
envergonhados de suas calúnias.
Esperança verdadeira começa com
santificar (consagrar) Cristo como Senhor em teu coração. Não há esperança
verdadeira sem Cristo. Todas as outras esperanças são falsas ou passageiras; em
resumo, não dá para “apostar” sua vida nelas. Por isso somos chamados a estar
sempre prontos a explicar por que nossa esperança está em Cristo. O verso
seguinte dá uma séria indicação de como devemos defender nossa esperança. Não
somos chamados a defendê-la com desrespeito ou com hostilidade. Não somos
chamados a uma Jihad (guerra santa islâmica). Nosso discurso, nossas ações, a
defesa de nossa fé devem imitar a atitude de Jesus – que foi mansa e cheia de
amor. Se cremos que somos discípulos de Cristo, somente agindo como ele agiu
vamos promover seu nome, seu reino vindouro. Infelizmente, temos ouvido muito discurso
de ódio de não cristãos. É trágico, mas revela seus corações. O que deve nos
surpreender e espantar é discurso de ódio vindo daqueles que se dizem cristãos.
Cuidado para que “ninguém os engane com palavras tolas”!
Quero concluir copiando a oração
de Paulo em Romanos 15.13: “Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e
paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo
poder do Espírito Santo”.
Nota:
George Orwell, A Revolução
dos Bichos: Um conto de fadas (São Paulo: Companhia das Letras, 2007), p. 97.
Fonte: Chamada.com
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