Há quatro anos, acontecia uma das
piores manifestações de violência contra a comunidade cristã do Paquistão dos
últimos tempos.
Em setembro de 2009, sete cristãos
foram queimados até a morte em Gojra e mais de 100 casas foram pilhadas,
saqueadas e incendiadas. O tempo passou e a situação continua desoladora.
Em julho, a agência de notícias World
Watch Monitor relatou que um cristão em Gojra foi condenado por cometer
blasfêmia e um casal foi preso por enviar mensagens de texto consideradas
ofensivas aos princípios do Islã. Outro cristão foi morto a tiros em uma cidade
vizinha no fim daquele mês.
Nesse contexto, uma ocorrência
relativamente comum − a 'fuga' de um homem cristão de 20 anos de idade e uma
mulher muçulmana de 17 anos −, foi capaz de provocar uma acusação de estupro e
a perda dos meios de subsistência de 40 famílias cristãs. Os vizinhos e
proprietários muçulmanos agora se recusam a contratar cristãos para o trabalho
diário em seus campos; um ativista local disse que as famílias correm risco de
inanição.
Umair Masih, 20, fugiu com sua namorada
Nadia Shabir, 17, na noite de 27 de julho. Ambos moravam em Chak (aldeia) 375
JB, distrito de Toba Tek Singh, a aproximadamente 15 Km de Gojra. A aldeia é
formada por cerca de 40 famílias cristãs e 500 mulçumanas.
Em países como o Paquistão, onde os
casamentos arranjados ainda são comuns nas comunidades rurais, muitos jovens
casais deixam seus lares por um capricho, ou na tentativa de poder ter a
afeição que sentem um pelo outro levada a sério por suas famílias, ou ainda num
ato de desespero.
Em muitos desses casos de fuga, as
comunidades locais e especialmente os membros mais próximos da família
conseguem acompanhar e encontrar o casal e trazê-los de volta para suas casas.
Às vezes, eles são punidos. É sempre um escândalo dentro da aldeia, mas o
desenrolar dos acontecimentos geralmente é mantido entre os diretamente
envolvidos.
Dessa vez, no entanto, dezenas de
moradores saíram pela estrada e começaram a atirar para o ar assim que
descobriram que o casal estava desaparecido. Eles começaram a procurar pelos
campos e depois foram até as casas dos cristãos. O grupo invadiu as casas e
disse aos cristãos que levariam todas as suas mulheres jovens para humilhá-las.
A multidão também ameaçou incendiar suas casas e expulsá-los da aldeia.
A multidão decidiu então pegar as três
irmãs de Masih, Saba, Chanda e Mariam, e sua mãe Shehnaz Bibi, e humilhá-las
publicamente. Finalmente, resolvem levar Saba e Chanda junto com eles.
"Eles bateram na porta e invadiram a casa. Começaram a bater em meu pai e
nos xingaram", contou Saba, 18, à World Watch Monitor. Em seguida,
arrastaram Saba e Chanda para fora de casa e levaram-nas para uma fazenda.
"Havia dezenas de homens lá. Eles
nos insultaram, mas, quando começaram a nos tocar de maneira indecente, alguns
dos homens mais idosos contestaram, de modo que o grupo se conteve e não nos
agrediu sexualmente", acrescentou Chanda, 16, ao nosso repórter.
"Ficamos amarradas até o dia seguinte, sem comida e água", narrou.
Após a fuga do casal, as relações entre
cristãos e a maioria mulçumana ficaram tensas. No dia seguinte, um conselho
arbitrário da aldeia (panchayyat) decidiu que Saba e Chanda seriam devolvidas à
família e, em troca, Nadia voltaria para o seu pai. O conselho também decidiu
que Umair Masih não viveria mais na aldeia. O pai de Masih, Tufail Masih,
concordou com todas essas condições.
Contrariando o que haviam acordado com
o conselho, o grupo de muçulmanos entrou com uma petição no tribunal para o
registro de uma ocorrência, alegando que Umair Masih e quatro membros de sua
família teriam raptado e estuprado Nadia. Além desta ação judicial, o grupo
ameaçou "derramar o sangue dos cristãos" da aldeia para vingar a
"insulto" infligido pela fuga de Nadia.
Levando em conta o histórico de
conflitos populares na sua área, os cristãos entraram com uma petição escrita
diante do juiz das Sessões Complementares Toba Tek Singh e solicitaram uma
ordem junto à Delegacia de Polícia Saddar para registrar uma ocorrência contra
o grupo muçulmano por ameaça de morte. O juiz emitiu uma ordem no mesmo dia,
chamando a polícia para registrar uma ocorrência contra o grupo.
Desde então, a polícia tem tentado
chegar a um acordo entre os cristãos e o grupo muçulmano, segundo afirmou Munir
Masih Gill, ativista social da aldeia. Ele relatou que, mesmo com a questão
jurídica resolvida, o boicote social ainda continua. Quase todos os cristãos
são pobres e analfabetos, e são contratados pelos proprietários muçulmanos em
seus campos por um salário diário. Eles também têm enfrentado uma escassez de
alimentos bastante séria.
Fonte: Missão Portas Abertas
Fonte: World
Watch Monitor
Tradução: Daniela
Cunha
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