Por: Maurício Bronzatto
“A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os
pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão
direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão
aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome” (Ap 13:16-17)
A
missão de Jesus, o Cordeiro histórico que padeceu na Palestina, encontra
significado lá na eternidade onde ele é conhecido como “o Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo” (Ap 13:8). Essa marca fala-nos sobre o seu caráter.
Ele deixou essa marca na História porque essa é a sua marca na eternidade (na
trans-História).
Com
a marca da besta acontece algo semelhante, às avessas: sua marca na
história dos homens apenas testemunha um caráter consumado na eternidade.
Jesus disse que o diabo é homicida desde o princípio e que nele não há verdade
(Jo 8:44). Logo, toda a manifestação da besta na história sempre repetirá esse
caráter, ainda que tais desempenhos se camuflem das formas as mais variadas.
Muito
tempo já foi desperdiçado com microchips, smart cards (cartões de crédito
inteligentes), enigmas escondidos atrás de nomes de celebridades mundiais. O
problema é que olhamos demais para a mão direita e para a fronte e nos
esquecemos de olhar para o coração, de onde procedem as fontes da vida (Pv
4:23). A prática da besta é tão velha quanto a besta! Ezequiel 28:16 nos
alerta: “…na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de
violência, e pecaste…” O versículo 18 complementa: “…pela injustiça do
teu comércio, profanaste os teus santuários…” Esse dois textos proféticos
que dizem respeito ao mesmo tempo à queda do rei de Tiro (História) e à queda
de Lúcifer (trans-História) são um bom exemplo sobre a relação entre causa e
efeito. A “multiplicação do comércio” faz o coração encher-se de violência; a
“injustiça do comércio” profana os santuários (trata Deus com indiferença e
leviandade, faz abandonar o temor e a reverência). Aquilo que foi efeito na
eternidade, conforme o relato de Ezequiel, tornar-se-á a causa em Apocalipse
13, ou seja, corações sobrecarregados de consumismo, de capitalismo, de
materialismo desenfreado e, conseqüentemente, de violência e irreverência,
serão aqueles que comercializarão nos dias da ditadura da besta. Comercializar
aqui é muito mais do que realizar negócios. Trata-se do livre acesso para usar
e abusar desta terra que deveria ser sempre terra de peregrinações, laboratório
para a pátria futura, nunca cidade permanente (Hb 13:14).
Note
que serão assinalados pequenos e grandes (não apenas os grandes), ricos e
pobres (não apenas os ricos), livres e escravos (não apenas os livres),
provando-nos que essa marcação, na verdade, não é uma marcação, mas uma
separação. A marca apenas tornará pública a decisão daqueles que anteriormente
já optaram por bater continência diária ao deus-dinheiro. A grande implicação
desta marca é financeira (embora não única).
Só
escapará dela quem, no decurso da vida, aprendeu a depender do Deus que manda
corvos alimentar profetas; que cuida das viúvas e dos órfãos; que dá de comer
às aves do céu e veste os lírios do campo. Só escapará dessa marca quem
aprender a “comprar como se nada possuísse”, “utilizar desse mundo como se dele
não usassem, porque a aparência desse mundo passa” (I Co 7:30-31). Só escapará
dessa marca quem souber escolher entre a sabedoria e o dinheiro. Salomão disse
que ambos protegem, porém o proveito da sabedoria é que ela dá vida ao seu
possuidor (Ec 7:12). Só escapará dessa marca quem tiver fé e ousadia para
tomar decisões não baseadas em condições financeiras. Só escapará dela quem
olhar para os escândalos financeiros dos televangelistas americanos da
prosperidade da década de 70 e aprender uma lição profética, cuja mensagem fez
refrão em homens como Jim Baker, alguém que virou palavra viva de Deus detrás
das grades nos EUA, para mostrar a sua geração e `a vindoura que “o amor do
dinheiro é raiz de todos os males; e alguns nessa cobiça, se desviaram da fé e
a si mesmos se atormentaram com muitas dores”(I Tm 6:10).
Só
escapará dessa marca quem olhar para os gafanhotos que Deus envia atualmente
contra algumas lideranças proeminentes da igreja brasileira (Jl 1:4) e
aprender que “os que querem ficar ricos caem em tentação, e em cilada, e em
muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na
ruína e perdição” (I Tm 6: 9). Só escapará desse laço quem entender que o
anticristo passeia confortavelmente como príncipe nas carruagens das teologias
da prosperidade; quem abrir os ouvidos para as palavras do Senhor Jesus: “a
vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc
12:15). Só escapará dessa marca quem parar de se esconder atrás de discursos
vazios que hasteiam as bandeiras de uma teologia contundente cuja mensagem
propõe uma vida simples de serviço e renúncia, ao mesmo tempo que
contradiz o discurso praticando uma vida de acúmulo e alienação quanto à
necessidade material do próximo.
Só
escapará da marca da besta quem aprender que “mais bem-aventurado é dar que
receber” (At 20:35). Ainda que o desafio seja para darmos, não do que nos
sobra, mas de tudo quanto possuímos em nossa pobreza, de todo o nosso sustento
(Mc 12:44).
Só
escapará dessa marca quem tiver escapado de sobrecarregar o coração com os
cuidados dessa vida (Lc 21:34).
Só escapará da marca na mão direita e na fronte
quem escapou da marca no coração. Não tema a marca da besta. Tema o coração da
besta!
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