3 - As misericórdias de Deus cooperam para o bem do homem piedoso.
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito.” (Romanos 8.28).
As misericórdias de Deus
humilham. “Então, entrou o rei Davi na
Casa do SENHOR, ficou perante ele e disse: Quem sou eu, SENHOR Deus, e qual é a
minha casa, para que me tenhas trazido até aqui?” (2 Sm 7.18). Senhor,
por que tamanha honra é conferida a mim, para que eu seja rei? Eu, que
pastoreio as ovelhas, irei entrar e sair adiante do Teu povo? Assim diz um
coração agraciado: “Senhor, quem sou eu, para que ocorra melhor comigo do que
com outros? Eu bebo do fruto da vide, enquanto os outros bebem, não apenas um
cálice de absinto, mas um cálice de sangue (ou sofrimento até a morte). Quem
sou eu, para que obtenha aquelas misericórdias que outros desejam, outros que
são melhores do que eu? Senhor, por que isso, que, não obstante toda a minha
indignidade, uma nova corrente de misericórdia vem sobre mim todos os dias?” As
misericórdias de Deus fazem um pecador orgulhoso, mas um santo, humilde.
As misericórdias de Deus
têm uma influencia enternecedora sobre a alma; elas fazem a alma se derreter de
amor por Deus. Os juízos de Deus fazem com que nós O temamos; Suas
misericórdias fazem com que nós O amemos. Como foi Saul surpreendido pela
bondade! Davi tinha vantagem sobre ele, e poder para cortar não somente a orla
de seu manto, mas a sua cabeça; ainda assim, ele poupou sua vida. Essa bondade
derreteu o coração de Saul. “É isto a
tua voz, meu filho Davi? E chorou Saul em voz alta.” (1º Sm 24.16).
Assim também a misericórdia de Deus tem uma influência enternecedora; ela faz
os olhos gotejarem com lágrimas de amor.
As misericórdias de Deus
tornam o nosso coração frutífero. Quando você dispensa mais recursos em um
campo, ele dá uma colheita melhor. Uma alma agraciada honra o Senhor
completamente. Ela não faz com a misericórdia de Deus como Israel, com suas
jóias e brincos, fez um bezerro de ouro; mas, assim como Salomão fez com o
dinheiro dado à casa do tesouro, ela constrói um templo para o Senhor. As ricas
torrentes de misericórdia causam fertilidade.
As misericórdias de Deus
tornam o coração agradecido. “Que
darei ao SENHOR por todos os seus benefícios para comigo? Tomarei o cálice da
salvação” (Sl 116. 12-13). Davi faz alusão ao povo de Israel, o qual, em
suas ofertas pacíficas, costumava tomar um cálice em suas mãos e dar graças a
Deus pelos livramentos. Toda misericórdia é uma esmola da livre graça; e isso
dilata a alma em gratidão. Um bom cristão não é uma cova para enterrar as
misericórdias de Deus, mas um templo para cantar os Seus louvores. Se todas as
aves segundo a sua espécie, como diz Ambrósio, gorjeiam de gratidão ao seu
Criador, muito mais se dará com um cristão ingênuo, cuja vida é enriquecida e
perfumada com misericórdia.
As misericórdias de Deus
vivificam. Assim como elas são como ímãs para o amor, também são como pedras de
amolar para a obediência. “Andarei na
presença do Senhor, na terra dos viventes” (Sl 116.9). Aquele que põe em
retrospectiva as bênçãos recebidas olha para si mesmo como uma pessoa
comprometida com Deus. Ele lida a partir da doçura da misericórdia com a
prontidão do dever. Ele gasta e se deixa gastar por Cristo; ele dedica a si
mesmo a Deus. Entre os romanos, quando alguém era redimido por outro,
subsequentemente passava a servi-lo. Uma alma cercada de misericórdia é
zelosamente ativa no serviço de Deus.
As misericórdias de Deus
produzem compaixão para com outros. Um cristão é um “salvador temporal”. Ele
alimenta os famintos, veste o nu, e visita a viúva e o órfão na angústia deles.
Ele lança entre eles as sementes de ouro de sua caridade. “Ditoso o homem que se compadece e empresta”
(Sl 112.5). A caridade flui dele liberalmente, como a mirra das árvores. Assim,
para os piedosos, as misericórdias de Deus cooperam para o bem; elas são as
asas para levá-los ao céu.
Misericórdias espirituais
também cooperam para o bem.
A palavra pregada coopera
para o bem. Ela é um aroma de vida; é uma palavra transformadora da alma; ela
conduz o coração à semelhança de Cristo; ela produz segurança. “O nosso evangelho não chegou até vós
tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena
convicção” (1º Ts 1.5). Ela é a carruagem da salvação.
A oração coopera para o
bem. A oração são os urros da afeição; ela explode santos desejos e ardores da
alma. A oração tem poder com Deus. “Demandai-me”
(Is 45.11, ARC). Ela é a chave que abre os tesouros da misericórdia de Deus. A
oração mantém o coração aberto para Deus, porém fechado para o pecado; ela
abranda os corações descontrolados e os inchaços da luxúria. Assim Lutero
aconselhou um amigo, quando ele percebeu uma tentação começar a surgir, para
que ele se conduzisse à oração. A oração é a arma do cristão, que ele
descarrega contra os seus inimigos. A oração é o remédio soberano da alma. A
oração santifica toda misericórdia (1º Tm 4.5). Ela é o dissipador da tristeza:
à medida que sopra sobre a dor, ela alivia o coração. Quando Ana orou, “ela se foi seu caminho… e o seu semblante
já não era triste” (1º Sm 1.18). E, se a oração tem esses raros efeitos,
então ela coopera para o bem.
A Ceia do Senhor coopera
para o bem. Ela é um emblema da ceia das bodas do Cordeiro (Ap 19.9) e um
penhor da comunhão que nós teremos com Cristo na glória. É um banquete de
coisas deliciosas; é-nos dado pão do céu, que preserva a vida e previne a
morte. Ela opera gloriosos efeitos no coração dos piedosos. Ela vivifica suas
afeições, fortalece as suas graças, mortifica as suas corrupções, revive as
suas esperanças e aumenta a sua alegria. Lutero diz: “Ela é tanto uma grande
obra para confortar a alma abatida, como para ressuscitar um morto para a
vida”. Isso é o que pode e às vezes é feito pela alma dos piedosos na ceia
abençoada.
Tradução
e Fonte: Voltemos ao Evangelho
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