O pastor Chit* percebeu rapidamente que ele e sua pequena igreja não estavam mais seguros após o golpe militar de 01 de fevereiro em Mianmar.
As novas autoridades passaram a
invadir igrejas, escritórios, cafés e prédios residenciais em busca de
opositores.
Dessa forma, o pastor e 18
famílias de sua igreja decidiram que a selva era um lugar mais seguro e todos
se mudaram para se esconderem na selva. Eles cavaram o chão, fizeram um buraco
e agora ficam lá a maior parte do tempo. Como o preço dos alimentos dobrou após
o golpe, o pastor Chit e sua comunidade não podem comprar arroz, então procuram
raízes e folhas na selva.
Em um relato feito ao portal
Christian Today, Zara Sarvarian, integrante da Missão Portas Abertas, afirmou
que uma das ameaças que enfrentam é serem recrutados à força pela junta militar
para o exército. Um pastor de uma aldeia remota disse a uma fonte da entidade,
identificado apenas como Lwin* por razões de segurança, que “na semana passada,
o chefe da aldeia foi convidado a recrutar 30 homens para o exército”.
“Agora os cristãos, incluindo o
pastor, estão escondidos na floresta”, acrescentou Lwin, que relatou um cenário
de frustração, desespero e estresse, uma vez que não há sinal de uma resolução
para a situação.
Com o desligamento da Internet no
país, as comunicações com Mianmar são raras. No entanto, os parceiros da Portas
Abertas puderam compartilhar a situação atual que muitos dos 4,4 milhões de
cristãos de Mianmar estão enfrentando.
Min Naing*, um cristão da capital Yangon, contextualizou: “Todos os dias ouço o som de tiros e granadas perto da minha casa. A maioria das casas não acende as luzes depois das 20h e ninguém faz barulho. Ficamos em casa durante o dia também. Não podemos sair, exceto para fazer compras e levar o lixo para fora. Eu moro no meio de Yangon sem segurança”.
Perseguição sem fim
Os cristãos enfrentaram sérias
perseguições em Mianmar ao longo dos anos, e muitos temem que possam ser alvos
durante o conflito atual. Mesmo antes do golpe, o país estava envolvido no que
é atualmente a guerra civil mais longa em todo o mundo.
Tudo começou imediatamente após o
país se tornar independente da Grã-Bretanha em 1948. O governo central tentou
impor seu controle sobre as regiões, às quais havia prometido autonomia
limitada. As etnias armadas dessas regiões têm lutado pelo direito à
autodeterminação.
A guerra civil afeta, entre
outras, as comunidades predominantemente cristãs de Chin, Kachin e Karen. Os
cristãos são vulneráveis à perseguição por grupos insurgentes e pelo exército.
Os combates continuam e mais de 100 mil pessoas – a maioria cristãos – vivem em
campos de deslocados internos.
A maioria deles está lá há anos,
sem comida e sem cuidados médicos. A luta também continua no vizinho estado de
Shan, que tem uma comunidade cristã populosa, embora seja minoria da população.
Assim, o golpe de fevereiro apenas aumentou a tensão existente para os
cristãos.
Alguns deles decidiram que
precisavam se manifestar e se juntaram aos manifestantes nas ruas. Myra*, uma
pastora do centro de Mianmar, fazia isso todos os dias com outros membros da
comunidade quando os protestos começaram.
“Eu não conseguia ficar parada
quando nosso povo estava lutando e protestando”, disse ela à Portas Abertas.
“Decidi sair e protestar. Alguns outros pastores escolheram ficar na igreja e
observar o jejum e a oração. Queremos o melhor para o nosso país”.
A pastora Myra teve que parar de
protestar quando se tornou muito perigoso, já que militares ocuparam a área
onde ela vive. Sua igreja não pode abrir, e ainda assim, ela se reúne com
alguns de seus membros para orar e estudar a Bíblia.
O pastor Joshua* do centro de
Mianmar também participou dos protestos iniciais em apoio à democracia. À
medida que a situação econômica piorava, ele começou a distribuir pacotes de
alimentos para cristãos e não cristãos.
Outro pastor, Zaw, doou 35 kg de
arroz para os pobres na vizinhança de sua igreja. Ele também ajuda e incentiva
outros pastores de áreas rurais remotas por meio de telefonemas.
Da capital à selva remota, os
pastores de Mianmar tentam fornecer apoio prático e espiritual a todos aqueles
que precisam de comida e palavras de encorajamento enquanto a igreja em Mianmar
ora e espera por um futuro melhor.
Mianmar está em 18º lugar na Lista Mundial de Perseguição da Missão Portas Abertas, um ranking com os 50 países mais hostis aos cristãos.
*Nomes alterados por razões de segurança
Fonte: Gospel +
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